terça-feira, março 13, 2007


hoje apetecia-me eludir o mundo, mas não consigo encontrar o espaço ideal para me esconder. pensei num cemitério, qualquer um dos vários que existem na cidade onde moro. à tarde não há quase ninguém nos cemitérios, o problema é que todos eles fecham demasiado cedo e eu precisava era de fugir algumas horas. em toda a parte há pessoas. num jardim há pessoas, e se não há também não convém. é perigoso. pensei na praia, mas a praia não tem cantos. podia-me esconder nos versos, mas isso é estar demasiado perto de mim. hoje apetecia-me eludir tudo e todos. deixar-me estar num silêncio exterior e interior. é bom deixar-se estar assim. é necessário por vezes. mas é complicado encontrar o sítio onde deixar-se estar. fiquei chateada. estava uma tarde linda lá fora e eu tive de voltar para casa por não conseguir eludir o mundo dentro do próprio mundo. na minha casa estou também demasiado perto de mim. entrar na minha casa é encontrar-me a mim própria, o que nunca me incomoda, antes pelo contrário, sossega-me imenso, mas não era o que me apetecia hoje. enfim... voltei à pouco para a minha linda casa num movimento estúpido de pião. desisto. aqui e agora mudo de planos: vou eludir o mundo fora do próprio mundo dentro da minha casa perto de mim. também não é mau. o meu chá quentinho e a música de luigi boccherini a enrolar-se nos meus tornozelos, a subir pelas minhas pernas... quando o allegro molto chegar ao meu peito vou-me deixar estar no mais absoluto sossego. afinal, até que vou conseguir escapar.