sábado, março 25, 2006

mãos que se metem nas consciências


"La Luna" - Joe Sorren

"In Her Silent Way" - Joe Sorren

Quero dizer-te uma coisa simples: a tua

ausência dói-me. Refiro-me a essa dor que não

magoa, que se limita à alma; mas que não deixa,

por isso, de deixar alguns sinais - um peso

nos olhos, no lugar da tua imagem, e

um vazio nas mãos. Como se as tuas mãos lhes

tivessem roubado o tacto. São estas as formas

do amor, podia dizer-te; e acrescentar que

as coisas simples também podem ser

complicadas, quando nos damos conta da

diferença entre o sonho e a realidade. Porém,

é o sonho que me traz a tua memória; e a

realidade aproxima-me de ti, agora que

os dias correm mais depressa, e as palavras

ficam pressas numa refracção de instantes,

quando a tua voz me chama de dentro de

mim - e me faz responder-te uma coisa simples,

como dizer que a tua ausência me dói.

******************

Nunca são as coisas mais simples que aparecem

quando as esperamos. O que é mais simples,

como o amor, ou o mais evidente dos sorrisos, não se

encontra no curso previsível da vida. Porém, se

nos distraímos do calendário, ou se o acaso dos passos

nos empurrou para fora do caminho habitual,

então as coisas são outras. Nada do que se espera

transforma o que somos se não for isso:

um desvio no olhar; ou a mão que se demora

no teu ombro, forçando uma aproximação

dos lábios.

(Nuno Júdice)