quinta-feira, março 09, 2006

HOMENAGEM A RICARDO REIS

I
Não creias, Lídia, que nenhum estio
Por nós perdido possa regressar
Oferecendo a flor

Que adiámos colher.

Cada dia te é dado uma só vez
E no redondo círculo da noite

Não existe piedade
Para aquele que hesita.


Mais tarde será tarde e já é tarde.
O tempo apaga tudo menos esse
Longo indelével rasto
Que o não-vivido deixa.


Não creias na demora em que te medes.
Jamais se detém Kronos cujo passo
Vai sempre mais à frente
Do que o teu próprio passo.


(Sophia de Mello Breyner Andresen)

mais tarde será tarde e ainda não é tarde e nunca será tarde enquanto os olhos continuem abertos. a sorrir.