quinta-feira, setembro 29, 2005

contradição coerente por quanto que real
sou uma esteta condenada à eterna interrogação sobre todas as coisas.
por vezes precisamos das palavras doutrem para nos (re)conhecermos a nós próprios. quer parcial quer completamente. e é só quando vemos esse reflexo ou sentimos o conforto da partilha que podemos dizer: "gosto de".

II
O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem...
Sei ter o pasmo essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo...
Creio no mundo como num malmequer,
Porque o vejo. Mas não penso nele
Porque pensar é não compreender...

O Mundo não se fez para pensarmos nele
(Pensar é estar doente dos olhos)
Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

Eu não tenho filosofia: tenho sentidos...
Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
Mas porque a amo, e amo-a por isso,
Porque quem ama nunca sabe o que ama
Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

Amar é a eterna inocência,
E a única inocência é não pensar...

(O Guardador de Rebanhos - Alberto Caeiro)

URGENTEMENTE

É urgente o amor.
É urgente um barco no mar.

É urgente destruir certas palavras,
ódio, solidão e crueldade,
alguns lamentos,
muitas espadas.

É urgente inventar alegria,
multiplicar os beijos, as searas,
é urgente descobrir rosas e rios
e manhãs claras.

Cai o silêncio nos ombros e a luz
impura, até doer.
É urgente o amor, é urgente
permanecer.

(Eugénio de Andrade)

é, sim. e essa urgência é a luz que me acorda todas as manhãs.

terça-feira, setembro 27, 2005


nunca estamos sozinhos e é por isso que não posso estar triste nem deixar de voar. mesmo quando não pedimos auxílio sempre há quem se aproxima de nós e, com um simples gesto quase transparente, levanta-nos do chão e faz-nos acreditar ainda mais que só o amor é toda a força nos braços de Atlas. nunca estamos sozinhos e é por isso que devo estender de novo as minhas asas e estar sempre pronta para pousar silenciosamente uma estrela ao pé dalguém.
Cada uno da lo que recibe
y luego recibe lo que da,
nada es más simple,
no hay otra norma:
nada se pierde,
todo se transforma.

("Todo se transforma" - Jorge Drexler)

sexta-feira, setembro 23, 2005



FINDING IT SO HARD

I'm finding it so hard
To communicate with you
I'm finding it so hard
To show myself to you
Cause these feelings
Won't go away
God give me the strength
To get over this
So I
I can keep my love in here

I'm finding it so hard
To see reason with you
I'm finding it so hard
To show my love to you
Cause these emotions
Won't come out of here
God give me the power
To love again
So I
I Can feel my heart again

I'm finding it so hard
To make my life with you
I'm finding it so hard
To let myself be with you
Cause this selfishness won't go away
Lock myself up when you're with me
So free me
So I can love again
Just free me

I'm finding it so hard
To communicate
With you
I'm finding it so hard
To show myself
To you
Cause these emotions
Won't come out of here
Lock myself up when you're with me
When you're with me...

Girl:
Did you phone
Over me my love
Over me
Tell me why
Did you phone
Over me my love
Over me
Tell me why
Did you phone
Over me my love


(Archive)

Acredito.

quinta-feira, setembro 22, 2005



o verdadeiro significado dalgumas coisas
ler marx é sempre voltar à minha infância. são as capas duras e pretas com letras vermelhas d'O Capital nas minhas mãos ainda demasiado miúdas. é andar pelas ruas no primeiro de maio de mão dada com o meu pai. somos eu e a minha mãe e a minha irmã a esperar que o meu pai voltasse da sede do partido para jantarmos pescada no forno com batatas. ler marx sou eu sentada no colo do meu avô a comer pão e chocolate e são as palavras do meu avô a contarem histórias de sangue, fome e areia fria. sou eu curiosa e espantada de olhos bem abertos. é o meu avô a relatar como uma bala dos fascistas atravessou-lhe uma das nádegas e sou eu a imaginar a cicatriz no traseiro do meu avô. somos nós os dois a rirmos muito. ler marx somos eu e o meu pai a conversarmos sobre a mais-valia e sou eu a segurar o livro de capas duras e pretas com letras vermelhas e a perguntar à minha mãe se o homem da fotografia é o pai natal.

quinta-feira, setembro 01, 2005


metafísica do (meu) ser
os que me conhecem muito, não fazem perguntas. os que me conhecem bastante, interrogam-me às vezes, só para saberem mais. os que me conhecem pouco mais ou menos, ficam surpreendidos e dizem fixe. os que me conhecem mesmo pouco, acreditam que vivo num mundo regido pelo realismo mágico. e os que mal me conhecem pensam que estou "maluca" ou julgam-me, sem mais nem menos, uma criatura doutro planeta.


invocação
vem. vamos juntar os nossos ramos para formarmos uma única sombra.