quinta-feira, abril 27, 2006


Surpreendentemente, em pleno século XXI as touradas persistem em diferentes países, para vergonha de todos aqueles que dizem que vivemos num mundo evoluído e civilizado. Estes espectáculos bárbaros mais não são que uma reminiscência da Idade Média. No entanto, os mesmos continuam a existir devido aos poderosos lobbies que os apoiam. Estes lobbies mantêm este negócio sangrento por puro lucro, à custa da tortura, sofrimento e morte dos animais. Têm o apoio de governos nacionais e locais, recebem apoio financeiro de empresas que pretendem promover os seus produtos como tendo um "sabor cultural" e recebem também a promoção dada pelas chamadas revistas mundanas que gostam de mostrar aquilo a que eles chamam pomposamente de gente bonita, que assiste à tortura dos animais. Apesar do descrécimo do público nos últimos anos (sondagens de opinião demonstram que a grande maioria dos cidadãos em todo o mundo é contra estes espectáculos), esta minoria continua a enriquecer torturando touros e cavalos. São bem conhecidas as várias tentativas de expandir o seu sangrento e sujo negócio para outros países. Touradas de beneficência para angariar fundos para crianças de países do terceiro mundo, para angariar fundos para doenças incuráveis, etc, são outras tentativas de dar a este espectáculo de tortura um ar de respeitabilidade. Se isto não fosse suficiente, também a Igreja Católica não condena estes espectáculos, pelo contrário, é comum que as touradas sejam feitas em honra de santos e com a benesse dos membros do clérigo.
Não há justificação moral para recusar ter em consideração o sofrimento de um ser, seja ele animal humano ou animal não humano. Os animais são seres sencientes que experienciam alegria, prazer, medo e dor do mesmo modo que os animais humanos. Ninguém tem o direito de os fazer sofrer para diversão. Se qualquer tortura inflingida a um animal merece ser condenada, as touradas são a pior forma de tortura uma vez que são feitas em nome do entertenimento. Temos que acabar com toda a tortura praticada sobre os animais e terminar de uma vez por todas com estes espectáculos de brutalidade e violência. Quem tortura animais e lhes inflige sofrimento mais tarde ou mais cedo fará o mesmo com o seu semelhante.

www.iwab.org (International Web Against Bullfights)
www.faace.co.uk (FAACE - Fight Against Animal Cruelty in Europe)
www.pacma.net (PACMA - Partido Antitaurino Contra el Maltrato Animal)
www.infonature.org (Ambiente, Direitos Humanos, Direitos dos Animais, Activismo e Voluntariado)
www.lpda.pt (Liga Portuguesa dos Direitos do Animal)
www.ifaw.org (International Fund for Animal Welfare)

terça-feira, abril 25, 2006


Diz-se, amiúde, que os anarquistas vivem em um mundo de sonhos de futuro, e não vêem as coisas do presente. Vemo-las em demasia sob as suas verdadeiras cores, e é isso que nos faz brandir o machado nesta floresta de preconceitos autoritários que nos obcecam. Longe de viver em um mundo de visões, e de imaginar os homens melhores do que são, vemo-los tais como eles são, e é por isso que afirmamos que o melhor dos homens torna-se essencialmente mau pelo exercício da autoridade, e que a teoria da "ponderação dos poderes" e do "controle das autoridades" é uma fórmula hipócrita, fabricada pelos detentores do poder para fazer "o povo soberano" - que eles desprezam - crer que é ele quem governa.

(Piotr Kropotkin)

quarta-feira, abril 19, 2006

SOBRE O ILOGISMO NO AMOR OU O PARADOXO ENTRE O SENTIR E O PENSAR

1. sobre o ilogismo no amor
quando Wittgenstein abriu a porta do escritório, Russell estava sentado à secretária. passava a mão pela superfície lisa da mesa tentando perceber, com a ponta dos dedos, qualquer coisa imperceptível. demorou um tempo em levantar o olhar, fixado nas partes brancas da madeira que reflectiam a luz, e no intervalo desse movimento breve, Wittgenstein já tinha fechado a porta e tinha dado os primeiros passos em direcção a ele. "gostava de falar consigo", disse Russell. o seu rosto parecia espelhar também uma certa claridade ou qualquer coisa que, aos olhos de Wittgenstein, não era imperceptível. o professor convidou o aluno para se sentar à frente dele. tinha a convicção que as reflexões do discente alemão viriam esclarecer algumas dúvidas sobre temas que o tinham inquietado nos últimos tempos. quando começaram a conversar, a mão de Russell continuava a deslizar pela secretária, como se não quisesse que nada nem ninguém lhe proibisse o tacto analítico dos objectos. no entanto, Wittgenstein reparou logo que a sua presença em nada perturbava a ocupação da mão do mestre, antes pelo contrário, uma vez que os dedos de Russell mostravam-se agora mais ágeis e mais concentrados na sua tarefa. o professor, de carácter probo, sempre intimidou o aluno desde que este chegou a Cambridge, mas desta vez o seu corpo distinto esboçava gestos simples que Wittgenstein observava admirado. o rosto de Russell tornou-se definitivamente singelo quando disse com tom acanhado:

- você acha que o amor pode conter-se a si mesmo?

uma luz ténue envolveu subitamente todos os objectos do escritório. era o início do outono a entrar pela janela. por uns momentos sumiram todas as sombras, e Wittgenstein deixou-se cercar também por esse esplendor despretensioso para embuçar a sua excitação.

- fala no amor como descrição definida em posição de sujeito ou de predicado?

Russell sorriu.

- falo no amor em termos de conjunto de todos os conjuntos.

- que género de conjunto é esse exactamente?

- é o conjunto de todos os conjuntos que não se contêm a si próprios como membros. chamo-lhe conjunto "A".

- então, de acordo com a sua definição, se "A" se contém a si mesmo não é membro de "A". por outro lado, se "A" não se contém a si mesmo tem que ser membro de "A".

houve um momento de silêncio entre as palavras de Wittgenstein e a mão de Russell a pousar-se levemente no canto da secretária. a palma da mão, aberta e virada para cima, parecia uma flor murcha ou um animal morto. apesar do semblante satisfeito do professor, Wittgenstein percebeu que Russell sentia-se cansado; se bem que esse esgotamento não era o reflexo de alguém desiludido por ter topado com uma contradição. aliás, Wittgenstein sabia que as suas palavras tinham servido apenas para que Russell confirmasse mais uma das suas teorias. depois, o professor exprimiu o seu agradecimento e o aluno levantou-se da cadeira e foi-se embora.

segunda-feira, abril 10, 2006

trindade ateia

Três paixões, simples mas extremamente fortes, governaram a minha vida: o desejo de amar, a procura pelo conhecimento e uma incontida compaixão pelo sofrimento humano.

Bertrand Russell – Autobiografia (1967)