quinta-feira, novembro 30, 2006


O POETA CATALÃO PERE GIMFERRER VENCEDOR DO PREMIO INTERNACIONAL DE POESÍA Y ENSAYO OCTAVIO PAZ 2006

e o meu poema preferido dele é este:

ODA A VENECIA ANTE EL MAR DE LOS TEATROS

Las copas falsas, el veneno y la calavera de los teatros.
García Lorca
Tiene el mar su mecánica como el amor sus símbolos.
Con que trajín se alza una cortina roja
o en esta embocadura de escenario vacío
suena un rumor de estatuas, hojas de lirio, alfanjes,
palomas que descienden y suavemente pósanse.
Componer con chalinas un ajedrez verdoso.
El moho en mi mejilla recuerda el tiempo ido
y una gota de plomo hierve en mi corazón.
Llevé la mano al pecho, y el reloj corrobora
la razón de las nubes y su velamen yerto.
Asciende una marea, rosas equilibristas
sobre el arco voltaico de la noche en Venecia
aquel año de mi adolescencia perdida,
mármol en la Dogana como observaba Pound
y la masa de un féretro en los densos canales.
Id más allá, muy lejos aún, hondo en la noche,
sobre el tapiz del Dux, sombras entretejidas,
príncipes o nereidas que el tiempo destruyó.
Que pureza un desnudo o adolescente muerto
en las inmensas salas del recuerdo en penumbra
¿Estuve aquí? ¿Habré de creer que éste he sido
y éste fue el sufrimiento que punzaba mi piel?
Qué frágil era entonces, y por qué. ¿Es más verdad,
copos que os diferís en el parque nevado,
el que hoy así acoge vuestro amor en el rostro
o aquel que allá en Venecia de belleza murió?
Las piedras vivas hablan de un recuerdo presente.
Como la vena insiste sus conductos de sangre,
va, viene y se remonta nuevamente al planeta
y así la vida expande en batán silencioso,
el pasado se afirma en mí a esta hora incierta.
Tanto he escrito, y entonces tanto escribí. No sé
si valía la pena o la vale. Tú, por quien
es más cierta mi vida, y vosotros que oís
en mi verso otra esfera, sabréis su signo o arte.
Dilo, pues, o decidlo, y dulcemente acaso
mintáis a mi tristeza. Noche, noche en Venecia
va para cinco años, ¿cómo tan lejos? Soy
el que fui entonces, sé tensarme y ser herido
por la pura belleza como entonces, violín
que parte en dos aires de una noche de estío
cuando el mundo no puede soportar su ansiedad
de ser bello. Lloraba yo acodado al balcón
como en un mal poema romántico, y el aire
promovía disturbios de humo azul y alcanfor.
Bogaba en las alcobas, bajo el granito húmedo,
un arcángel o sauce o cisne o corcel de llama
que las potencias últimas enviaban a mi sueño.
Lloré, lloré, lloré
¿Y cómo pudo ser tan hermoso y tan triste?
Agua y frío rubí, transparencia diabólica
grababan en mi carne un tatuaje de luz.
Helada noche, ardiente noche, ¡noche mía
como si hoy la viviera! Es doloroso y dulce
haber dejado atrás a la Venecia en que todos
para nuestro castigo fuimos adolescentes
y perseguirnos hoy por las salas vacías
en ronda de jinetes que disuelve un espejo
negando, con su doble, la realidad de este poema.


(do livro Arde el mar, 1966)


PERE GIMFERRER
poeta (em língua espanhola e língua catalã), tradutor e crítico literário. nasceu em Barcelona em 1945.



domingo, novembro 26, 2006


lo tuyo es puro teatro

tinha 17 anos quando, após grandes hesitações, resolvi que ia para o instituto superior de teatro da cidade onde nasci. depois, no momento de realizar as diligências necessárias para ingressar, decidi de repente encaminhar-me por outras áreas onde finalmente me formei. durante muito tempo, de cada vez que ia ver uma peça, sentada na platéia, sentia o arrependimento a pesar-me no estómago como uma bola gigante; sentia-me como se estivesse sentada sobre uma mola que em qualquer momento impulsionar-me-ia direitinha para o palco. nesses momentos, refletia sobre o quanto tinha gostado daquilo que tinha aprendido na universidade ou que estava a aprender, e ficava muito mais confiada em relação à escolha que tinha feito tempo atrás. hoje, tenho a certeza de ter acertado plenamente na eleição. coisas da vida, a minha profissão actual conjuga muitas, senão todas, diria eu, das vocações que tinha quando era adolescente: linguagem, comunicação, ensino, literatura, cultura, improvisação e interp
retação. quando estou a trabalhar estou "em palco". é mesmo. faço colocação de voz e executo vários registros; trabalho a expressão facial e corporal; movimento-me coreograficamente; invento e reinvento, previamente ou na hora. interpreto, afinal. interpreto e comunico, e os que me prestam atenção e aprendem comigo (aprendendo eu deles também) ora ficam com ar grave ora riem sem parar. "tu fizeste teatro, não fizeste?". "mmm... não, não fiz". "anda lá, diz, tu fizeste teatro, vê-se logo". "não a sério, não fiz". "então devias". tantas vezes me dizeram "és muito expressiva, sabes que pareces?". "uma actriz de cinema mudo...?". "é! é isso! ja te disseram antes, não te disseram?". "já...". um amigo meu bailarino está sempre a insistir "epá, tens mesmo de ir para a dança contemporânea. tira aí um cursinho, carago". e de facto, estive para ir no ano passado. a falta de tempo impediu-mo. a minha profissão preenche-me. reparei esta tarde, como muitas outras vezes antes, enquanto estava a preparar trabalho para o trabalho de amanhã. o teatro faz parte da minha profissão, no sentido em que referi, e não só. lá está o melhor. a minha profissão, como resultado da formação que recebi, apresenta-se mais abrangente. o próprio facto de me ter formado noutras áreas, permete-me hoje em dia poder ir para além da própria interpretação e envolver-me em actividades que fazem parte do meu ser tanto como o faz o teatro. um leque infinito de temas que me interessam e sobre os quais posso ler, investigar, escrever e comunicar. a minha escolha, a formação que resolvi seguir, fez da minha profissão uma profissão multidisciplinar; uma profissão que me oferece também a oportunidade de "actuar", que me acalma essa sede; uma profissão em contínua reciclagem -porque eu quero que assim seja- que aos poucos vai abrindo mais e mais portas. aliás, na minha profissão, "a peça" nem sempre está agendada; não tem princípio nem fim; pode ter público como pode não ter. mas tem é, de certeza, mais do que um palco onde ser "representada".



by borboletavermelha


sábado, novembro 18, 2006



by borboletavermelha


SONG OF SOPHIA

With one wish we wake the will
Within wisdom.
With one will we wish the wisdom
Within waking.
Woken, wishing, willing.

(Dead Can Dance)


sábado, novembro 11, 2006


NEM ÀS PAREDES CONFESSO

...
De quem eu gosto
Nem às paredes confesso
E até aposto que não gosto de ninguém...


... Quem sabe se te esqueci
Ou se te quero
Quem sabe até se é por ti
Por quem eu espero.
Se eu gosto ou não, afinal
Isso é comigo...


Letra: Maximiano de Sousa
Intérprete: Amália Rodrigues

terça-feira, novembro 07, 2006


hoje, quando acabei a minha jornada laboral, havia um arco-íris sobre os telhados da cidade. pena foi não ter a câmara fotográfica comigo. fiquei a olhar para o céu longo tempo, depois olhei ao meu redor para verificar se outras pessoas tinham reparado também no fenómeno. ninguém a olhar para cima. à minha frente havia pessoas na fila do autocarro encostadas aos azulejos de um prédio. no prédio havia duas janelas com flores, caracóis e estrelas de papel às cores colados ao vidro. no momento em que alguns miúdos saíam desse prédio segurados por mãos maiores do que as suas, passava por mim uma carrinha cinzenta com centenas de garrafas de vidro vazias. por trás dessa carrinha, na direcção contrária, acelerava um carro da polícia com a palavra "transito" sem acento circunflexo. ao meu lado havia uma mulher de camisola côr-de-rosa a fazer sinais para comunicar à pessoa que conduzia um Peugeot 206 bordeaux que a porta traseira estava mal fechada. ao mesmo tempo, um homem loiro deitava fora uma ponta de cigarro pela janela do seu automóvel. voltei a olhar para o céu e ainda se via o arco-íris. pena foi não ter a câmara fotográfica comigo.


quinta-feira, novembro 02, 2006


A ESPERA
Estava tão apaixonado que se fechou em casa, sentado junto à porta,
para poder abraçá-la assim que ela batesse para lhe vir confessar que
também o amava.
Mas ela não veio e ele envelheceu. Um dia alguém tocou, levemente,
à porta e ele, apavorado, fugiu, escondendo-se atrás do armário.

Tonino Guerra - Histórias Para Uma Noite De Calmaria