sexta-feira, março 30, 2007


Flamenco
by Valery Kosorukov


no interior do interior de um carvalho
há sangue e há garra
há tragicidade e há pesar
há movimento e há alegria
no interior do interior de um carvalho
há um enorme coração a latejar


sexta-feira, março 23, 2007

filha de Marte




é raíz firme no ar. é peixe fugidiço e é gato selvagem : é pétala de orvalho doce e é aragem morna nos dedos. pensa numa língua que lhe foi dada antes do que o seu nome quando cantava a música do oceano e segurava o leme e os seus sonhos cheiravam a especiaria. espera por tudo e não espera por nada. tem o rosto feito de sóis e de luas. é terra : e é céu : e é coração no peito e nos olhos.


(photo by Vladimir Clavijo)


quarta-feira, março 21, 2007


p


o

e

s

i

a
todos os dias
nos meus olhos


terça-feira, março 13, 2007


hoje apetecia-me eludir o mundo, mas não consigo encontrar o espaço ideal para me esconder. pensei num cemitério, qualquer um dos vários que existem na cidade onde moro. à tarde não há quase ninguém nos cemitérios, o problema é que todos eles fecham demasiado cedo e eu precisava era de fugir algumas horas. em toda a parte há pessoas. num jardim há pessoas, e se não há também não convém. é perigoso. pensei na praia, mas a praia não tem cantos. podia-me esconder nos versos, mas isso é estar demasiado perto de mim. hoje apetecia-me eludir tudo e todos. deixar-me estar num silêncio exterior e interior. é bom deixar-se estar assim. é necessário por vezes. mas é complicado encontrar o sítio onde deixar-se estar. fiquei chateada. estava uma tarde linda lá fora e eu tive de voltar para casa por não conseguir eludir o mundo dentro do próprio mundo. na minha casa estou também demasiado perto de mim. entrar na minha casa é encontrar-me a mim própria, o que nunca me incomoda, antes pelo contrário, sossega-me imenso, mas não era o que me apetecia hoje. enfim... voltei à pouco para a minha linda casa num movimento estúpido de pião. desisto. aqui e agora mudo de planos: vou eludir o mundo fora do próprio mundo dentro da minha casa perto de mim. também não é mau. o meu chá quentinho e a música de luigi boccherini a enrolar-se nos meus tornozelos, a subir pelas minhas pernas... quando o allegro molto chegar ao meu peito vou-me deixar estar no mais absoluto sossego. afinal, até que vou conseguir escapar.


domingo, março 04, 2007


SONNET 23


As an unperfect actor on the stage,
Who with his fear is put besides his part,
Or some fierce thing replete with too much rage,
Whose strength's abundance weakens his own heart;

So I for fear of trust, forget to say,
The perfect ceremony of love's rite,
And in mine own love's strenght seem to decay,
O'ercharg'd with burthen of mine own love's might:

O let my books be then the eloquence,
And dumb presagers of my speaking breast,
Who plead for love, and look for recompense,
More than that tongue that more hath more express'd.

O learn to read what silent love hath writ,
To hear with eyes belongs to love's fine wit.

(William Shakespeare)