a cidade onde moro tem luz e ela não vem do céué uma luminosidade que nasce nas janelas aos quadradinhos ou nas pedras das calçadas ou nas asas das gaivotas e estende-se pelo ar para envolver as pessoas. mesmo nos dias de chuva, quando as núvens enleadas tentam engarnar-nos, todos os que cá moramos andamos de casaco brilhante. gosto da cidade onde moro porque é mágica. basta um raio redirigido dessa luz secreta e própria para a cidade metamorfosear. nos fins-de-tarde, por exemplo, costuma ser mar d'ouro ou campo de trigo no verão. e é nessa hora do dia quando todos os que cá moramos abandonamos as nossas ocupações e saimos à rua para navegar sem velas ou para ceifar o cereal com os nossos dedos.
POR UM ACASOEntendi que era verdadeToda aquela claridadeA entrar pela janela.Vi teus olhos a brilharDuma cor que vem do marE de todas a mais bela.Foi o encanto desse olharQue me fez acreditarNa repentina verdade.Corri para porta da ruaE a vontade nua e cruaEra agora realidade.Eu por ti então tireiAs cortinas que fecheiNoutro tempo que vivi.Entre crenças nublosasTuas súplicas teimosasMe juntaram mais a ti.Lembro esse dia distanteEm que só por um instanteEsqueci a cortina aberta.Afinal um esquecimentoRevelou num só momentoToda a luz da descoberta.Letra: Aldina DuarteMúsica: José Marques (Fado Triplicado)
somewhere i have never travelled,gladly beyondany experience,your eyes have their silence:in your most frail gesture are things which enclose me,or which i cannot touch because they are too nearyour slightest look easily will unclose methough i have closed myself as fingers,you open always petal by petal myself as Spring opens(touching skilfully,mysteriously) her first roseor if your wish be to close me,i andmy life will shut very beautifully, suddenly,as when the heart of this flower imaginesthe snow carefully everywhere descending;nothing which we are to perceive in this world equalsthe power of your intense fragility: whose texturecompels me with the color of its countries,rendering death and forever with each breathing(i do not know what it is about you that closesand opens; only something in me understandsthe voice of your eyes is deeper than all roses)nobody,not even the rain, has such small hands(E.E.Cummings)
os raios luminosos propagam-se em linha recta, excepto quando a atração gravitacional de um buraco negro obriga-os à propagação curvilínea. assim, por vezes, nós somos desencaminhados também por uma força que nos engole. resta-nos apenas não oferecer resistência. não adianta. pois não é o homem quem faz as leis nem existem leis que não se possam quebrantar.
VEMVemalém de toda a solidãoperdi a luz do teu viverperdi o horizonte.Está bemprossegue lá até quereresmas vem depois iluminarum coração que sofre.Pertenço-teaté ao fim do mar.Sou como tuda mesma luzdo mesmo amar.Por isso vemporque te queroconsolar.Se não, está bemdeixa-te andar a navegar.(Madredeus)